terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Armário Homossexual: Danos e Esperança



Estereótipos de que os homossexuais são inferiores, que possuem defeitos de caráter moral, são mantidos tanto por instituições sociais (tais como família, escola, Igreja e Estado) como pelos meios de comunicação de massa em geral (Nunan, 2003). São imagens tão difundidas que se torna difícil deixar de internalizá-las em algum grau, sobretudo durante a infância (Pereira & Leal, 2002). Homossexuais que internalizam estas crenças podem se sentir inferiores aos heterossexuais e incapazes de alcançar objetivos que contradigam o preconceito. Os eventos de vida negativos decorrentes do preconceito institucionalizado e da discriminação podem ser chamados de “estressores externos”, enquanto que os “estressores internos” seriam aqueles ligados ao preconceito internalizado (Lipp, 2001). Em outras palavras, pode-se dizer que quando o estereótipo é muito forte ou pernicioso, membros do grupo alvo tendem a aceitá-lo e incorporá-lo à sua autoimagem, fazendo com que sentimentos negativos com relação à própria orientação sexual sejam generalizados para o self como um todo, aqui entendido como o si-próprio, ou seja, como a totalidade do eu, e não como uma instância psíquica (Laplanche & Pontalis, 1985). Este processo se assemelha ao proposto por Allport (1979/1954) sobre os traços devidos à estigmatização, segundo o qual indivíduos estigmatizados apresentam reações defensivas, como reflexo do preconceito experienciado na sociedade. Estes mecanismos podem ser “extrovertidos” (uma preocupação obsessiva com características ou comportamentos que possam revelar a homossexualidade), ou “introvertidos” (incluindo ódio contra si mesmo e identificação com o agressor). Postulamos, junto com Williamson (2000), que os mecanismos considerados “introvertidos” podem ser equacionados com as teorias correntes sobre preconceito internalizado (Friedman & Downey, 1995; Igartua,Gill & Montoro, 2003).


Os homossexuais tem frequentemente em sua história muitas oportunidades para introjetar ( internalizar ) sentimentos negativos em relação a si mesmo. Desde muito cedo eles aprendem a se enxergar sob um prima de menos valia e a temer as consequências de sua auto-revelação. Os caminhos que desenvolve para serem aceitos ( e amados ), quase sempre pressupõem compensações psiquícas e emocionais perigosas, introjetar as humilhações vividas ou percebidas marcam a vida de um homossexual.

Ser homossexual em uma sociedade heteronormativa é quase um sinônimo de sofrimento. Sofrimento esse que homossexuais dentro do armário veem os que estão de fora ( assumidos ) sofrerem e por isso criam sentimentos e mecanismos de defesa afim de esconder a sua real orientação sexual, levando-os aos caminhos obscuros do sexo compulsivo e obsessivo que leva muitos ao contágio de doenças sexuais. Na prática clínica podemos observar que os pacientes assumidos tendem a possuir relacionamentos mais estáveis, duradouros e conscientes, aonde o que “pode” e “não pode”, o que “deve” e o que “não deve” é colocado a frente da adrenalina que um relacionamento escondido “dentro” do armário proporciona. Podemos compreender o mal-estar de “estar no armário” através dos mecanismos de defesa, dentre eles podemos citar os principais:


Projeção

Às vezes as pessoas se recriminam ou se sentem mal por terem certos pensamentos ou impulsos. Podem atribuí-los então a alguém, projetando nessa pessoa os seus próprios sentimentos. Ex: Uma pessoa que esta dentro do armário tem uma certa “mania” de projetar a ideia de que o outro esta no armário afim de proteger seu ego ( que é a função de todo mecanismo de defesa ).


Negação

Provavelmente é o mecanismo de defesa mais simples e direto, pois alguém simplesmente recusa a aceitar a existência de uma situação penosa demais para ser tolerada. Ex: Um homem é pego com um travesti na cama e ao ser questionado diz que não sabia que era um travesti, embora seja uma mentira.

Formação reativa

Quando um sentimento, um impulso ou desejo não pode ser realizado por conta de princípios elaborados pela sociedade heteronormativa um homossexual enrustido ataca outro como forma de expressar seu desejo reprimido. Ex: Um homem que “não suporta” a homossexualidade e odeia homossexuais e vivem por atacá-los é provavelmente um homem com questões não resolvidas no âmbito sexual.

De acordo com Castañeda (2007), para que o adolescente seja capaz de se assumir para si mesmo, é necessário que ele não se sinta relativamente preso aos danos causados à sua auto-estima.

Na resolução desse problema, devemos procurar enxergar a nossa natureza e por mais difícil que seja aceitá-las sempre e assumi-las no tempo exato. Na nossa personalidade, no inconsciente à uma área a qual se foi denominada por Jung como Sombra. Esta área é formada por aspectos desconhecidos e pouco conhecidos do “eu” que foram de uma certa forma “esquecidos”, “apagados” ou “reprimidos” da consciência por serem incongruentes com a imagem que devemos ter de nós mesmos. Esta sombra consiste tanto de atores da esfera pessoal, como também de certo ângulos de fatores coletivos. Sobre esta sombra de acordo a Dra. Von Franz escreve é “quando uma pessoa tenta ver sua sombra ela fica consciente das suas tendencias e impulsos que nega em si mesma, mas que consegue ver perfeitamente nos outros.”, esta na verdade é a forma simplificada que Jung estabeleceu para o mecanismo descrito por Freud e revisto por sua Filha Anna, a Repressão que com o tempo leva o indivíduo a comportamentos compulsivos, doentios, a ficar ansiosos e/ou depressivos, desencadeando até surtos psicóticos, levando muitos homossexuais ao consultório de Psiquiatria. 

Mas há esperança.

Para Isay (1998, p. 81), “o adolescente gay que se assume tem oportunidade de planejar a sua vida sem ser coagido pelas expectativas e convenções sociais. Estas oportunidades trazem consigo a liberdade, assim como a responsabilidade, de determinar o seu próprio futuro”

Para isto a principio requer que o indivíduo seja capaz de reconhecer, aceitar e finalmente integrar os aspectos de nossa sombra coletiva a personalidade social. E, como resultado, alcançar a totalidade psiquíca a qual todos tem direito.

Se você é homossexual e não é assumido e esta ansioso, depressivo, inquieto, desconfie que é por conta de seus mecanismos inconscientes. Se assumir não tem hora exata e nem momento ideal, ele surge quando você se da a oportunidade de ser feliz. Caso esteja com dificuldades de se assumir, não existe em procurar a ajuda de um profissional.

Fontes:

Desiguais, Klecius Borges

http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/12212/13925

CASTAÑEDA, Marina. A experiência homossexual. São Paulo: A Girafa, 2007.

AVIES, P. The role of disclosure in coming out among gay men. In: Ken Plummer (ed.), Modern homosexualities. New York: Routledge, 75-85, 1992.
FERREIRA, R. C. O Gay no Ambiente de Trabalho: análise dos efeitos nas organizações contemporâneas. Dissertação de Mestrado. Departamento de Administração. Universidade de Brasília: Brasília, 2007.
ISAY, Richard A. Tornar-se gay: o caminho da auto-aceitação. São Paulo: Summus, 1998.

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